
As mulheres negras ainda têm pouca representatividade nas cadeiras da alta gestão. Apenas 0,04% estão nos cargos de CEOs e na gerência elas não chegam a 6%, segundo Ednalva Aparecida de Moura dos Santos, gerente de relações institucionais e líder do Coletivo Pacto das Pretas na Associação Pacto pela Equidade Racial.
Ednalva, que também participou do Programa de Desenvolvimento de Conselheiros da Fundação Dom Cabral, fala da importância de valorizar a mulher negra executiva para que o Brasil evolua de fato. “Vamos romper o racismo estrutural. Vamos romper a ideia de que essas cadeiras não foram pensadas para nós, mulheres negras”, afirmou em entrevista exclusiva para a Voz da Diversidade.
A promoção da equidade racial no Brasil é o foco da Associação Pacto, ONG fundada em 2022, que criou um Protocolo ESG Racial para o país, trazendo a questão racial para o centro do debate econômico brasileiro e atraindo a atenção de grandes empresas nacionais e multinacionais e da sociedade civil para o tema.
O objetivo é que as empresas adotem esse protocolo e executem ações afirmativas que de fato ajudem na melhoria da qualidade da educação pública e na formação de profissionais negros.
Diversidade no poder
“Não dá para continuar sem ter diversidade nas discussões de poder”, afirma Ednalva. Segunda ela, precisamos lembrar que a chegada da mulher negra nas posições de poder automaticamente amplia o poder econômico do país. “Nós estamos falando de consumo, de poder aquisitivo, de dinheiro na mesa, porque sabemos que nós mulheres negras pagamos os nossos boletos e os boletos da família inteira”, complementa.
Se as empresas realmente focarem em ações afirmativas e focarem em contratar mulheres negras para posições de liderança, “o Brasil vai evoluir muito”, diz Ednalva. “Puxa a sua cadeira para o lado que cabe mais uma, cabe uma mulher negra”, finaliza.
Protocolo ESG Racial
Quando a Associação Pacto foi fundada, seus criadores identificaram a ausência de métricas no mercado corporativo em relação a diversidade. Foi criado o Protocolo ESG Racial para estimular a equidade racial.
ESG é uma sigla, em inglês, que significa environmental, social and governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. “A questão de ESG é muito forte, seja olhando para a questão ambiental ou para a governança. Mas e o S? Não adianta olhar para as outras letrinhas se não pensar nas pessoas, se não pensar em como promover equidade”, avalia Ednalva. “Em ESG, nós colocamos um ‘S’ que contempla todos os grupos minorizados”, diz.
Ela explica que a Associação Pacto criou um algoritmo para criar um raio-x das empresas e fazer um censo da empresa para identificar a diversidade nas empresas. “Não usamos a média ponderada, mas os números reais de cada território brasileiro”, explica Ednalva. O Censo feito nas empresas é regional.
O salário também é avaliado para fazer uma “foto” da empresa. “Eu tenho um produto que muitas empresas não gostam de ver, mas que precisa ser visto”.
As empresas que fazem o raio-x são enquadradas em um rating dentro de seus segmentos e recebem um selo ESG Racial. Anualmente, essas empresas precisam atingir metas para aumentarem o “score de diversidade”.
As 5 premissas da Associação Pacto
Após avaliar a diversidade nas empresas, a Associação Pacto promove as 5 premissas abaixo:
- Processo seletivo alternativo
- A história que não foi contada – Letramento racial
- Engajamento de stakeholders para promover diversidade
- Implementação de canais de denúncia nas empresas e inclusão de diversidade nas lideranças
- Investimento social privado para a equidade racial
Vagas afirmativas
A Associação Pacto também firma parcerias com empresas para promover vagas afirmativas e apoia executivas e executivos a conquistarem uma vaga. Para acessar as oportunidades, acesse a página da Associação Pacto.
Assista a um trecho da entrevista
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