Sou do interior da Bahia. Lembro que desde pequena eu já não gostava da ideia de beijar uma menina. Os meninos da escola me chamavam de “viadinho”. Os garotos chegavam perto e eu me sentia completamente em pânico, porque eles me despertavam algo que eu não queria sentir, porque achava que era errado.
Ninguém falava sobre o assunto naquela época. Eu não tinha nenhuma referência e isso me deixava atordoada, pois eu achava que era errado sentir aquilo. Eu cheguei a me forçar a gostar de mulher, mas em uma tentativa rápida de envolvimento, eu não consegui. Sim, eu recuei logo após nos beijarmos e infelizmente devo ter traumatizado a garota.
Aos 15 anos, aflita com todo aquele turbilhão de sentimentos, pensei seriamente em suicídio. Mas todo o meu plano, por sorte, acabou dando errado. Recebi um convite de um amigo para ir a São Paulo tentar uma nova vida. Parti e, com tristeza, deixei minha família.
O meu mundo rapidamente se abriu nesta grande cidade. Comecei a frequentar vários ambientes LGBTQIA+ e a me sentir melhor sabendo que agora sim eu poderia me relacionar com homens. E então conheci a Paola. Ela era uma travesti maravilhosa que depois do nosso terceiro encontro me disse: “Você não é gay, é travesti”. Naquela época a gente não usava o termo trans ainda, né?
Ela pegou um vestido dela e pediu para eu vestir. “Olha no espelho, amiga”. A imagem que se refletiu na minha frente me encheu imensamente de alegria. Era isso! Eu era essa pessoa. Agora eu sabia quem era. Pela primeira vez, me reconheci. Ela me deu um nome: Sara. E foi assim que passei a me chamar desde então.
Paola me ensinou muitas coisas e me empoderou para ser a mulher que sou hoje. Se não fosse ela, talvez eu nunca tivesse descoberto a minha verdadeira identidade.
Comecei a tomar hormônios e naturalmente comecei a me enxergar. Fui para o SUS (Sistema Único de Saúde) para fazer acompanhamento psicológico e solicitar uma cirurgia de redesignação de gênero. Os médicos já me contaram como ela será feita: vão utilizar a pele do meu órgão sexual para fazer o canal vaginal e construir o que chamam de “neovagina” e “neoclitóris”. Já estou esperando há mais de cinco anos. “Uma amiga entrou na Justiça para conseguir fazer a cirurgia dela. Já estava esperando há sete anos e conseguiu. É realmente difícil. Mas eu estou esperando a minha vez”.
É raro homens que me tratam bem
Muitos homens ainda têm vergonha de andar ao meu lado. Depois de uma noite juntos, quando temos de ir à padaria para comprar pão, alguns pedem para eu ir na frente para não serem vistos comigo. Para um homem ganhar meu coração, ele precisa me valorizar e ser gentil. Gestos simples como ir comigo ao supermercado, andar de mãos dadas e me tratar com respeito já me ganham.
Uma vez, fui a um clube com um dos meus namorados e nesse dia me apaixonei ainda mais por ele. Eu disse que não precisávamos ficar juntos se ele não quisesse. Sabe como é, né? Os homens sempre ficam comentando e além de falarem de mim também provocam quem está ao meu lado. Na mesma hora, ele disse com convicção. “Claro que não. Você é minha namorada e andaremos juntos, de mãos dadas. Não importa o que os outros falem ou pensem”.
As pessoas escondem o desejo por transexuais
O relato de Sara é o retrato do país que mais mata transexuais e ao mesmo tempo o que mais consome pornografia de trans. Conforme o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), que monitora dados globalmente levantados por instituições trans e LGBTQIA+, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo pelo 13° ano consecutivo.
Os dados apontam também que, nos últimos 13 anos, pelo menos 4.042 pessoas trans e de gêneros diversos foram assassinadas entre janeiro de 2008 e setembro de 2021.
Em contrapartida, o Brasil lidera a busca pelo termo “transgender” em relação à pornografia, segundo dados do PornHub de 2019.
A Voz da Diversidade já recebeu diversas mensagens e e-mails sobre o tema. Há muitos homens que gostam de sair com transexuais mas mantém esse segredo guardado. Alguns dizem “beber para esquecer”, enquanto outros afirmam que mesmo amando a troca com transexuais, na frente dos amigos, dizem fazer chacota e se sentem muito mal por isso internamente.
Precisamos reforçar ainda mais a diversidade em diversos espaços da sociedade para que as pessoas possam ser livres para viverem o que realmente querem.
Um detalhe importante para “prevenção ” a “extremos machistas” é reparar (claro com discrição) antes de se relacionar se o cara deixa a ereção fluir! Meu último chefe chegava a parecer liberal, levantando a camisa, colocando camisa polo para realçar mamilos “saltados” mas nada de ereção! Conter desejos sexuais levam muitas pessoas a agredir e, inclusive numa ocasião na copa do setor, estávamos com uma colega e ele em dado momento quis me bater, suponho que como a colega era “faixa” dele e assistir a gente conversando o deixou Indignado!