Thiago, como estão as coisas no colégio? Estão bem, respondeu a criança de 9 anos. Eu e minha esposa perguntamos se ele ou algum amigo sofriam algum tipo de preconceito. “Bullying?” Ele mesmo trouxe a palavra. “Não que eu saiba”.
Questionamos se ele conhecia os tipos de preconceito existentes. “Tem contra negros, contra gente mais balofa…”. E o que mais, sabe mais algum? “Humm, acho que não”.
E o que você acha de meninos que beijam meninos? “Ah, isso é errado. Deus criou o homem para ficar com a mulher. E também não pode beijar em público, na frente de criança, porque elas vão querer fazer igual e podem virar gays”.
Olhei surpreendida para a minha esposa e continuei a conversa. Onde você aprendeu isso, Thiago? “Na Igreja, com a minha mãe e a minha avó”.
Thiago, sabia que essas palavras também são uma forma de preconceito? Infelizmente, a sua mãe, sua avó e a Igreja estão fazendo muitas pessoas chorarem. Quando duas pessoas se amam, não importa se são dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher. “Ah, eu tinha esquecido disso, do amor. É verdade o que você tá dizendo. Os gays não estão fazendo nada de errado, né.”
Sorrimos com a conclusão de Thiago, mas com grande pesar. Sabemos que ele continuará a aprender e a reproduzir frases com doses de preconceito e ignorância. Ele não sabe que eu e minha mulher somos um casal. Para ele, somos amigas que moram juntas.
A nossa esperança é que, assim como nós, ele tenha acesso a boa literatura a respeito do tema para não integrar o time dos homofóbicos que pouco entendem sobre o assunto – ou simplesmente não tem a capacidade de enxergar o outro.
Há poucos meses, Thiago passou por um constrangimento desnecessário na escola. Um de seus amigos lhe deu um beijo inocente na boca, enquanto brincavam. Ao se deparar com a cena, as professoras saíram correndo e separaram os garotos. Repreenderam os dois, que ficaram sem entender o que acontecia, e em seguida chamaram os pais de ambos para uma conversa.
Felizmente, os pais criticaram a atitude da escola. Foi algo inocente e a reação dos educadores foi totalmente desnecessária. Os garotos não trocaram palavras por algumas semanas. Dentro de casa, Thiago também não fez qualquer menção sobre o amigo.
O assunto nunca mais foi trazido à tona e os amigos voltaram a se falar. Os pais, apesar de terem desaprovado a conduta da instituição de ensino, são os mesmos que ensinaram Thiago a acreditar que o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é errado. São aqueles que dizem “respeitar”, mas não “aceitar”. São e foram reféns dos mesmos ensinamentos aprendidos por Thiago. Sofrem, em vão, por saber que há gays, lésbicas e bissexuais na família.
O livro O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade explicita o grave erro cometido por muitas instituições religiosas, mães, pais e pessoas por todo o mundo. Em sua nota introdutória, o autor destaca:
“Não há livro que eu ame mais, ou que tenha alterado minha vida de forma mais dramática, do que a Bíblia. Ainda assim, se não tivesse escapado da literalidade de minha educação cristã fundamentalista, não poderia fazer tal afirmação, pois há muito tempo eu teria rejeitado a Bíblia como um documento religioso antigo, irremediavelmente ignorante e preconceituoso, ou teria negado a realidade e me transformado em um fanático religioso de mentalidade estreita, usando as escrituras de maneira literal para justificar meus preconceitos. Uma Bíblia literal, em minha opinião, não admite outras opções. Em minha carreira sacerdotal e episcopal, tenho observado a Bíblia literal ser citada para justificar a segregação racial, para garantir a opressão sexista das mulheres pela igreja cristã e para perpetuar uma homofobia mortal em nossa vida social”
Segundo o autor Daniel A Helminiak, Ph.D em teologia sistemática pela Escola Teológica Andover Newton e pelo Boston College, a Bíblia não fornece qualquer base real para a condenação da homossexualidade.
O erro, de acordo com ele, está na forma pela qual ela é lida. Obviamente ele não é o único estudioso no assunto: há muita literatura a respeito que pode ser devorada por todos os interessados – e também por aqueles que deveriam se interessar. E depois de lê-las, não tenha dúvida, você terá um novo olhar para interpretar a Bíblia. Ou não deixará mais que a interpretem erroneamente.
Olá Amanda,
Fico feliz pela sua postagem sobre essa temática. Eu sei bem o que foi para mim relutar contra a minha homossexualidade (desde muito jovem) devido às regras impostas pelo contexto sócio-histórico-cultural e religioso em que vivemos. Cometi os mesmos erros com meus filhos.
Sei também o quanto estamos longe de oferecer aos nossos jovens uma educação livre de preconceitos, principalmente no que se refere a esse assunto. Trabalho com pessoas e vejo muito presente o preconceito disfarçado, como você citou, “respeitam” mas não “aceitam” reféns da educação que receberam. No entanto, estamos a caminho, já observo alguns avanços.
Eu recebi uma educação impregnada de preconceitos e só depois de muitos tropeços, resolvi tomar as rédeas de minha vida, deixar o preconceito em outro plano e seguir adiante, sem culpas. E vou te dizer, este blog, você e algumas pessoas que conheci aqui me ajudaram muito nesse processo. Aliás este blog ajuda muitas pessoas a se “encontrarem” (em todos os sentidos). Sou grata por isso.
Beijos Amanda
Oi, Mary, tudo bem?
Você não sabe como o seu comentário me deixa emocionada. Fico muito feliz em saber que ajudei um pouquinho no seu processo de aceitação. É realmente muito difícil nos livrarmos do preconceito quando ele nasce dentro de casa.
Apesar de minha mãe sempre ter me transmitido esse valor importante – de amar as pessoas, independentemente de qualquer coisa -, o meu pai sempre teve muitos preconceitos (racistas, homofóbicos e por aí vai). Felizmente, absorvi os valores de minha mãe.
Fico muito triste quando recebo histórias de pessoas que foram expulsas de casa pelos pais ou totalmente rejeitadas por conta da identidade sexual.
Tenho esperanças de que esse cenário pode mudar em um futuro próximo.
Um grande abraço e obrigada! 🙂
Oi Amanda querida!!!
Saudades de você e dessa galera hiper legal aqui do blog!
Interessante e importante demais essa tema que você trouxe para nós, que trata do preconceito que pessoas homofóbicas introjetam nas crianças desde muito cedo.
O pior de tudo Amanda, é quando esse tipo de erro parte d@s própri@s educador@s.
Só para você ter uma ideia meu anjo, aqui em minha cidade, vári@s educador@s se uniram e construiram um projeto pedagógico para trabalhar nos primeiros anos do ensino infantil, nas escolas do município, questões sobre o Bullying e principalmente sobre homofobia e a importância de ver tod@s como iguais e respeitar as diferenças e sua riqueza. Foi rejeitado na câmara de vereadores, principalmente pela campanha empreendida, contra o projeto, por dois parlamentares ligados a instituições religiosas. Bueno, desses era de se esperar esse tipo de atitude. Porém, o que me deixou de queixo caído, foi o que uma amiga, que é educadora, inclusive com pós-graduação na área, e tem pouco mais de 40 anos de idade (além de ser ligada a um partido político de esquerda), me disse: “Não acho certo porque no projeto diz que os educadores poderão levar gays, lésbicas e transexuais para terem contado e conversarem com as crianças sobre como é ser “diferente”, por ser minoria. Não acho saudável para as crianças terem contato com esse tipo de pessoa”.
Pode Amanda? Quer mais??
Beijos no seu coração meu anjo!!!
Beijos nos corações de tod@s!!!
Nossa, Eduardo, que informações importantes você trouxe. Muito obrigada por compartilhar isso.
Realmente, muitos educadores pensam dessa forma. É triste ver que muitas crianças que se descobrem homossexuais muito cedo sofrem porque são reprimidas até na escola. E obviamente tudo isso também acaba refletindo nos alunos, que debocham diante de qualquer sinal de “feminilidade” de um garoto.
Há um caso que sempre me recordo, de uma adolescente de 15 anos. Um aluno da escola a viu em uma festa beijando uma garota. Quando ela percebeu que havia sido flagrada, ficou constrangida. Ela deixou de ir ao colégio por três dias.
E não era pra ser algo natural? Crescemos com o medo desse constrangimento desnecessariamente. Isso precisa parar.
Muito bom mais a vez conversar com você! 🙂
Grande abraço!
Agora me veio em mente Amanda, alguns inocentes acontecimentos, de minha infância e adolescência.
Quando eu era criança e estudava na mesma escola e mesma classe, com meu primo que é da minha mesma idade, e que além disso éramos muito próximos, muito ligados um ao outro, lembro-me de nós dois, na hora do intervalo, darmos as mãos e passearmos de mãos dadas por todo o pátio da escola, como se fôssemos namorados. Algumas crianças olhavam aquilo e achavam engraçado, outras, não achavam nada, e as professoras, achavam a coisa mais natural do mundo. E isso eram fins dos anos 1970 e início dos 1980.
Me lembro também, já isso na adolescência, da vez que esse meu mesmo primo, que frequentava minha casa todos os finais de semana, propôs para nós tomarmos banhos juntos, e eu, por já estar com os conhecidos processos de aculturação, cheios de conselhos e recomendações repressivas, que muitas vezes nos travam e até nos castram, disse para ele que não, pois era errado, por sermos dois homens.
Algumas lembranças do passado, muito comum à tod@s nós e que hoje em dia podem soar em nossa mente como algo bastante curioso, ou, quando nos permitirmos nos conhecer melhor,…NÃO!
Costumo dizer que o aflorar da adolescência, traz junto, a atração, Independente da sexualidade com a qual percebemos que já queremos seguir! Em 1979, aos 13 anos, pouco depois de ter minha primeira ejaculação, com um colega mais próximo, sem ele ter saído do nível amizade (foi expontânea), tive os primeiros contatos (tipo preliminares) com aluno da turma ao lado da minha (ele 14 anos)! Eu era timido, vinha conversar comigo! Quando a gente abre a mente para além do aspecto da reprodução, acaba como que vivendo o que o “corpo pede”! O controle da natalidade, trouxe esse aspecto do reino animal: fora do cio, os animais não deixam de viver a homossexualidade. Uma vez uma colega comentou de duas cadelas transando, já que não era época do acasalamento! Um dos colegas de trabalho, presumo que a esposa havia acertado terem dois filhos, porque ele começou a viver a Bissexualidade depois que nasceu o segundo filho, no intervalo de uns 6 anos entre as duas gestações, ele não desceu do armário, como status “manter-se fértil, para reprodução”!
Eu sempre renunciei minha sexualidade, me aceitava, mais achava que tinha que renunciar por amor a Deus. Foi dps de eu me apaixonar por um músico da igreja, meio que tivemos um romance. Eu encontrei a teologia inclusiva… e vi que Deus ñ quer q renunciemos o amor, infelizmente o garoto pelo qual tive um romance, continua tradicional… mais fazer o q? ^^
Olha o lado bom, mesmo sendo uma negatividade a vossa pessoa que este não mudara, você pelo menos se conheceu melhor. 🙂