Você se dá conta que tem atração por pessoas do mesmo sexo. E então começam a surgir variadas sensações. Para mim as mais fortes foram estranheza e deslocamento.
Vivemos em ambientes em que ver gays ou lésbicas se beijando ou simplesmente dando as mãos ainda é uma cena “rara”. E é daí que vem a estranheza. Parece algo tão fora do comum que iniciar essa autodescoberta pode ser gritantemente desconfortável. E esse desconforto surge principalmente pelo medo do que os outros vão falar e pensar.
Quem vive na cidade de São Paulo já começa a ver mais casais despreocupados com os olhares alheios. Outras cidades, como Rio de Janeiro, também já passaram a treinar seus olhos para pessoas decididas a mostrar o amor publicamente. Mas em cidades menores, essa cena pode nunca ter sido vista por muitas pessoas – é difícil desbravar um ambiente que inicialmente será hostil.
A verdade é que sair do armário não é tão simples, apesar de necessário. Exige coragem para enfrentar não só o mundo, mas muitas vezes a família e os amigos. Você poderá ser excluído de alguns círculos sociais e até expulso de casa.
E o deslocamento vai existir, porque em uma roda de amigos, por exemplo, quase sempre estarão falando sobre casais heterossexuais. No começo, foi difícil falar de uma mulher, quando todas as minhas amigas estavam compartilhando experiências sobre homens.
Cada pessoa terá o seu processo de autodescoberta, mas acredito que alguns pontos são importantíssimos para essa busca. Foram eles que me ajudaram a começar a falar naturalmente sobre minha identidade sexual. Eis pelo menos cinco deles.
1. Conviva com outros gays, lésbicas, bissexuais e pessoas sem preconceito
Faz toda a diferença conviver com pessoas com quem você possa se identificar. Frequente bares e ambientes LGBTs para se deparar com pessoas que passaram pelas mesmas situações. Elas poderão contar suas histórias de vida e compartilhar experiências riquíssimas. E sim, eles farão você se sentir muito, mas muito melhor. Sem dúvida, minhas amigas lésbicas foram cruciais para iniciar o meu processo de aceitação. Era tanta naturalidade ao contar que tinham beijado uma mulher que, aos poucos, fui conseguindo me soltar.
Não é tão simples quanto parece. Mesmo com amigas lésbicas, ainda tinha receio de contar sobre meus desejos mais profundos. O “empurrão” definitivo foi o beijo de um amiga. Aos poucos, fui me libertando.
2. Conte apenas quando puder lidar com reações negativas
Não se apresse em contar às pessoas se não estiver confortável. Enquanto você não se aceitar e não limar o preconceito interno, se forçará a passar por situações traumáticas e frustrantes. Demorei muito a conseguir falar publicamente quem eu era. Por dois ou três anos, preferi o meu anonimato no blog e em algumas reportagens. Por alguns anos, também não comentava absolutamente nada no trabalho sobre ser casada com uma mulher. Eu não queria me expor, pois sabia que enfrentaria comentários e situações complicadas.
Quando realmente me senti preparada, escrevi minha história na revista ÉPOCA. Recebi muitas mensagens lindas, mas outras nada motivadoras. Muitos comentários no Facebook da publicação foram cruéis, mas eu não sofri – já estava totalmente preparada para o que estava por vir. A internet pode ser tão ou mais cruel que o “mundo real”. Estar ciente da ignorância e do preconceito é importantíssimo para conseguir seguir em frente. É importante entender que nem todos irão aceitar (e nem respeitar). E você não precisa ser necessariamente gay, lésbica ou bissexual para que isso aconteça. Definitivamente alguém sempre vai criticar você por qualquer coisa – às vezes algumas que você nem imagina.
3. Fale sobre seus sentimentos para pessoas de confiança
Falar o que sente é uma dos maiores tesouros dessa autodescoberta. Converse com seu psicólogo, amigos e todas as pessoas em quem você confia. Se não tiver ninguém para contar, pule para o passo número 1. Quando eu não conseguia falar tão abertamente recorri à internet para desabafar até com desconhecidos. O meu medo era gigantesco e até na internet tinha dificuldades. Eu não conseguia nem falar o meu primeiro nome em chats para lésbicas e bissexuais. Achava que alguém iria me descobrir e eu passaria vergonha diante dos meus amigos e colegas.
Quanto mais exercitei contar a minha história, mais fácil foi ficando. Converse sobre o assunto o quanto puder. Não pare, não pare, não pare. Uma hora você vai conseguir contar a sua história muito, mas muito naturalmente. Isso tira um peso inimaginável.
4. Participe de eventos e rodas de conversas
As minhas grandes inspirações vieram de palestras e rodas de conversas sobre os temas mais diversos: ativistas lésbicas, gays, bissexuais, teoria Queer e todos os assuntos da comunidade LGBT. É emocionante constatar que muitas pessoas estão estudando a sexualidade para compartilhar descobertas incríveis e reconfortantes. Ter acesso a teorias e pensamentos bem construídos, a partir de pesquisas e ricos debates, nos elevam a um outro patamar.
Há mutos eventos voltados para o público LGBT. O BlogSoubi vai começar a mapear todos eles e publicar mensalmente. Você vai se surpreender com a riqueza de assuntos e compartilhamento de experiências.
O BlogSoubi também pretende promover esse ano algumas rodas de conversa em São Paulo e outras regiões. Para sugerir espaços, por favor, entrem em contato.
5. Viva um grande amor (ou não)
Vai valer muito mais a pena se você se permitir viver a sua sexualidade plenamente. Não adianta matar a curiosidade e se esconder em relações que não lhe preencham verdadeiramente. Ainda recebo muitos relatos de homens e mulheres insatisfeitos com suas relações atuais. Um exemplo é o dessa lésbica, casada há 25 anos com homem. “Acabei me casando mais por conveniência do que por paixão. Para ter um pouco de prazer, fecho os olhos e me imagino transando com uma mulher”, disse ela ao BlogSouBi.
Livrar-se das amarras que nos prendem a mentiras é um dos maiores passos que podemos dar. Encontrar um grande amor nessa caminhada seria maravilhoso. Mas não deve ser o maior objetivo para começar a amar quem você é. Como bem disse Clarisse Lispector: “Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.”
Mergulhar em si mesmo e conhecer a sua plenitude trará um amor a si próprio inimaginável. É assim que você vai começar a amar cada parte de quem você é. E quando conseguir, transmita esse amor a todos à sua volta. É um pouco do que estou tentando fazer.
Bem ainda estou dentro do armário, porém já dei um grande passo o dá aceitação. Mas ainda me sinto presa nas amarras da mentira por não poder falar os meus verdadeiro sentimentos por medo da rejeição ou do que as pessoas vão falar. Só que estou cansada de amar platonicamente de não ter coragem de dizer EU TE AMO e viver um amor intenso e reciproco. Assim como você uso a internet para desabafar meus sentimentos e me sinto confortável e vejo que tem pessoas na mesma situações e dilemas. Os post e me ajudam muito e muitos deles abriram minha mente e me fizeram enxergar o que sinto não e errada e simplesmente amor e que devo ser feliz.
Boa noite! Foi muito válido pra mim esses cinco passos, em alguns pontos até me identifico com alguns deles. Tenho 37 anos e ainda não tenho coragem de me assumir, ninguém sabe da minha sexualidade. E pra mim torna-se mais difícil por ter a família preconceituosa e morar em interior. A internet sempre foi minha confidente, a qual busquei me desabafar, conhecer outras histórias e até me aceitar um pouco. Mesmo assim, não me sinto preparada pra enfrentar todo preconceito que sei que irei sofrer. Quem sabe não encontre um amor que valha à pena e eu me livre dessa corrente na qual estou presa e não sei quando irei me soltar.
A respeito dessa roda de conversa pelas regiões, sugiro uma delas ser em Pernambuco – Recife…rsrsrr. Adoraria participar e fazer amizades que não ficarão apenas no virtual e sim no real.
Oi Amanda, tudo bom? Gostei muito do seu post. No meu caso o processo mais doloroso foi o da minha autoaceitação. Tinha uma homofobia internalizada enorme, volta e meia ainda me surpreendo com alguns pensamentos negativos com relação à homoafetividade. Era muito difícil pra mim assumir minha atração por mulheres, por isso sempre me escondi atrás de relacionamentos com homens mesmo não sendo prazeroso. Eu queria ser “normal”, mas essa negação da minha atração por mulheres só me trouxe infelicidade e depressão. Eu melhorei muito a partir do momento que me assumi lésbica para mim mesma e terminei meu namoro de 9 anos com um rapaz maravilhoso, mas que não me completava sexualmente. Como você falou no seu post, precisamos nos fortalecer internamente antes de nos abrirmos com os nossos familiares. Eu estou vivendo essa fase, me organizando para me abrir com eles. Queria muito uma namorada, mas não tenho pressa. Acho que agora eu não tenho muito a oferecer, mas gostaria de trocar e-mails com meninas que queiram amizade e que estejam passando por esse processo de autoaceitação e de libertação também. Afinal dá um alívio danado reconhecer a própria sexualidade e ver a gama de possibilidades que a vida te oferece pra ser feliz. Basta querer e começar a se amar.
Oi Julia,gostei muito do seu relato, e gostaria de trocar e-mails.
Ainda não me abri p/ ninguém, mas estou aprendendo a me aceitar, pois estou apaixonada por minha melhor amiga, e já fiz de tudo p/ não sentir, mas não tem jeito, é o sentimento mais forte que já senti,e olha que já tenho 39 anos.
O bom é que estamos solteiras.
Se quiser bater um papo
[email protected]
Bjs!!!
Julia, super me identifiquei com seu comentário. Tenho 32 anos e me assumi a pouco, namorei um cara por 10 anos e ele era machista homofobico, e pior: antes dele eu já suspeitava que gostava de garotas também. A lavagem cerebral foi tão forte que havia esquecido. Agora, três anos depois, de muita descoberta pessoal comecei a me conhecer melhor para assumir e foi assim, justamente pela internet … ora me abrindo, desabafando, ora contrariando comentários de ódio. A questão cultural presente na sociedade atual é : há algum valor real em viver uma vida por tradição?claro, é confortável, vocês pegam os preceitos de seus pais, seus avós, alguma tradição milenar religiosa, organizações que lhe dão suporte e os reproduz, a zona de conforto é boa, tranquila, lembra a infância. Mas também é uma bela prisão, porque assim vai viver a vida toda como mero espectador, perdendo a oportunidade de conhecer pessoas incríveis, singulares, novas experiências, por dar tanto valor as aparências. No final do dia, do trabalho normal, após conversar com pessoas normais, fazer um comentário na internet normal, você vai perceber que de você mesmo, só tem vazio, porque enquanto somos gados, só engolimos o que nos dão, não criamos nossa própria história. Todas somos super corajosas em nossa narrativa. Amei a matéria.
Olá! Poxa, me identifico com a sua história… Por muitos anos quis fugir do que verdadeiramente sinto, hoje passo pelo processo de auto-aceitação e estou me dando bem com ele… Bom, se quiser conversar: [email protected]
E eu amei as suas palavras.
Realmente é super difícil assumir e infelizmente muitos de nós somos criados para achar errado a opção sexual “fora” do padrão e as vezes levamos isso para a nossa própria vida!
Mesmo sabendo que eu era Bissexual desde adolescente e casada com um homem a 15 anos, eu escondia de todos minha opção sexual, pois eu satisfazia o “padrão” da minha família e do povo em geral.
Sentia uma sensação imensa de vazio, frustração e de mal estar por estar mentindo para mim mesmo e para todos.
Assumir minha sexualidade para a família e amigos foi a decisão mais assertiva que fiz na minha vida.
Depois que passei a seguir os 5 passos me sinto uma pessoa completamente nova, feliz e amo minha sexualidade independente do que as pessoas achem!
Não preciso mais mentir, fingir que não estou olhando para a moça bonita que está passando do lado, me vestir da maneira que eu desejava e ter os melhores amigos LGBT que eu poderia ter!
Parabéns pelo post!
Você não se importa de eu divulgar seus textos na minha página que mantenho no Facebook, importa? O “Sexualidade na Nova Era”? Considero seu blog e seus textos importantíssimos para tentar abrir a mente de muita gente para aquilo que eu considero a sexualidade do futuro, pois para Deus-Pai/Deusa-Mãe não importa se o casal é homo ou hetero, mas sim que a união seja de Amor! Acredito que no futuro não teremos mais rótulos, o Ser Humano será apenas um ser Sexual.
Claro, Alessandro! Pode postar na sua página do Facebook sim! 🙂
Bacana o post. Tenho 28 anos e sempre me questionei o que realmente eu queria. Sempre me envolvi com homens mais no fundo nao era o que queria.. nunca tive experiências com mulheres.. mais sei que tenho vontade, hj sinto mais falta de conversa abertamente com alguem sobre isso.. acho que seria o 1 passo.. ruim te que lida com isso sozinha.
Isso é verdade. Muito ruim passar por isso sem ter com quem compartilhar, desabafar. Eu nunca tive na verdade um alguém para conversar, no meu caso eu ja me envolvi com uma pessoa, mas ja ñ estou mais c ela.
Estou com 31 anos e estou me descobrindo a verdadeira sexualidade,mas só que não posso exercer plenamente onde eu moro e trabalho.Meu sonho e desejo e encontrar alguem que possa ser o meu amor e querer realizar o meu sonho de casar logo.Quando vejo imagens e fotos de casamentos do mesmo sexo entre homens, eu me vejo estando num desses,não para apenas acompanhar,mas para ser um dos noivos e fazer parte dessa história que é o casamento homoafetivo.
Olá, estou vivendo um dilema, sou casado e vivo muito bem com minha esposa e família, somos bem liberais na cama, rola fio terra, inversão de papel, etc…, faz algumas semanas, por acaso conheci um gay e fizemos amizade, saímos uma vez para tomar um café e conversamos, mas estou cada vez mais louco por ele e com muita vontade de ter pela primeira vez sexo com um homem, mas não sei como dizer isso para minha esposa, pois acho que ai seria o final do casamento. quem puder me dar alguma sugestão pode escrever. obrigado.
Na realidade você vai confirmar o que ela já supunha! E se ainda estás no “dilema” diga que está querendo “assumir-se” Bissexual! Ai cabe a ela decidir, afinal Não fará mais sentido “continuar interpretando” ser hetero, com a relação que já vinham tendo!
É complicado né meu amigo eu também sou casado já vivi esse dilema 50 anos querendo tudo para assumir o meu lado mas por medo das pessoas ao meu redor vou acabando meus dias não assumindo quem sabe um dia eu acho uma pessoa que possa me ajudar a fazer mudar de opinião
Boa tarde,
Sou casado com mulher, porém já dei o meu cuzinho duas vezes e gostei da experiência. Continuo no armário. Gostaria de encontrar um homem para conversar, por email.
Sei que nos anos 80, perdeu um pouco o glamour da chamada relação fluida com a preocupação que passamos a ter com a saúde! A juventude naquela época era viver intensamente ou morrer! Mais em 2018, ouvi de um colega ( chefe do setor vizinho) que me “desejava” e ele no vigor dos 35 anos e eu 52! O mais interessante que um dos funcionários dele (mesma geração) me paquerou sem “ir além”e nem correspondia a “deferência” do chefe com ele! No meu setor as colegas da minha geração ou anterior me tratavam de “senhor”, ou seja, com distanciamento. Poderiam cogitar o “romance” meu e dele, mas nunca fizeram “insinuações” mesmo quando presenciavam ele ir me oferecer carona!
Eu sou gay passivo,descobri esse meu lado , há cerca de 4, nesse período já me relacionei com dois homens, fui penetrado pelo meu primeiro macho, que era barbudo e muito peludo,nos nós beijamos e abraçamos, eu peguei na sua rola coloquei a cabeça na minha boca, achei bem esponjosa, depois lambi o saco , gostei muito e depois fui penetrado com camisinha, adorei ter dado o meu cuzinho,amei dar..
Tenha um relacionamento mesmo. Sinta-o por inteiro: personalidade, profissionalismo e “maritalmente”, também! É Indescritível! No momento, percebendo, numa ponta: dois colaboradores do prédio buscando como me cativar, mas um nitidamente sem saber como chegar! E um terceiro me observando pela sacada já que dá para a entrada do prédio!
Boa tarde me descobri Bi quase aos 50 anos .E confesso que é muito difícil quando vc tem uma vida construída , família.
Tive um relacionamento secreto com uma garota que conheci pela internet.Nunca nos encontramos pessoalmente mas confesso que foi bom e intenso .Ela me fazia atingir orgasmo que nunca havia tido. Confesso que o pouco tempo que nós relacionamos foram os melhores. Hj depois de 6 anos ainda não consegui esquecer tudo que vivemos e nem deixar de sentir desejo por ela . Preciso encontrar alguém que me faça sentir tudo outra vez .